quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Calo





Há algum tempo vinha lutando contra a teimosia de um calinho... Calinho pequeno, mas chato; chato ao ponto de despertar, em mim, sensações que eu pouco sabia existirem. E o danado persistiu, e teimou, e teimou que acabou por encontrar em mim o que buscava: atenção! No fundo, até as insignificâncias coisas também buscam de nós isso...

            O calo, de tanto me tirar do sério e a minha atenção de mim, passou a se destacar mais, chegou a ganhar vida e, de mim, um nome; chamei-o de, bem, para não atrair energias negativas. Direi só a inicial do nome: L. Na verdade, o L nem inicial do nome o nome, era do sobrenome, pois, de tão persistente, o danado quase ganhara documentos e outros benefícios comuns a outros cidadãos. Mas, este cidadão chato e persistente, vivia à minha sombra, vivia feliz às custas das minhas mazelas e, de alguma maneira, sugava parte disso que eu era, e que, mesmo sem me dar conta, ainda resistia em mim.

            E eu, de burrico que sou, dando-lhe mais vida e mais destaque na minha vida. Mas para quê? Aquilo só crescia. Parecia zombar de mim e eu: aquém do destaque que deveria ser só meu. O meu calo passara a tirar o meu brilho, a invadir-me em horas erradas: a doer!... E como incomodava! Era um danadinho pequenino que sabia onde machucar e os momentos exatos em que deveria me atrapalhar; tirava-me o juízo o pilantrinha.

            Simpatias, remédios caseiros, rezas de terreiro, fármacos e nada, o danado lá ficava; zombando de mim, saltitante. Por vezes murchava, mas não durava e lá, de novo, estava o meu pequeno grande incômodo, novamente me tirando as forças através de dores mortais que, por pouco, não mataram-me. Mas como era forte aquele serzinho inescrupuloso que vivia só por que eu vivia. Ninguém se faz feliz em dores, nem para rimá-las com amores. Mas como era persistente o meu pequeno habitante! Se me permitem, posso dizer que esse pequeno ser, que não fora parido, era, mesmo assim, um grande filho da puta!

             Não me livrava do salafrarinho! E doía...

        Quando minhas forças estavam minguando mais e o filhote mal-vindo, lá teimando, zombava de mim, tomei, por mim que não aguentava mais, olhando o safadinho palpitando no meu dedo, uma decisão: "Quer incomodar, fique à vontade! Serei com ou sem a sua insistência dolorida..."

             Quando, na primeira oportunidade, tive que colocar sapatos, escolhi o mais justo, não dando importância ao que poderia sentir por conta daquela escolha. Meias, sapatos e uma noitada sem fim: música boa, gente bonita e alegre e eu sendo idealmente parte daquela alegria; perdendo o medo do ridículo que nos conduz ao amor e fui: bebi, dancei, celebrei a vida como há muito não fazia. No dia seguinte, lá estava o resultado da minha audácia de vida, a estranha parte de mim que não me pertencia explodira... Silenciosamente, insignificantemente, como sempre fora, explodira... Havia apenas restos, um vermelhão e a esperança de epiderme nova! Morri das dores e voltei, de fato, à vida... Agora é seguir e ser, ser, ser... sem ele!


Cláudio Cleudson
Arapiraca, 13 de janeiro de 10.



(Quaisquer que sejam as semelhanças, com certeza, serão meras coincidências... ou não!)
         

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu amigo,
Que post maravilhoso!
Seu texto é simplesmente uma delícia de se ler. Amei, continue assim: Cleudson.
Amoooooo
Rejane.